Cartaz em françês do Filme Infância Perdida - o grafite atrás do garoto soa como uma ordem, aos meus olhos: STOP! |
A presença foi obrigatória na abertura do CineClube da Faculdade São Luís, no ano de 2011, que aconteceu ontem. Em comemoração ao Dia Mundial da Infância e Dia Internacional da Luta Contra a Discriminação Racial, a Coordenadoria de Comunicação da Faculdade nos emocionou com o filme documentário de Philippe Lhuillier: A Infância Perdida.
Na abertura o professor da Fac.São Luís e também cineasta, comenta que o documentário trata-se de um "ciclo da tragédia que não nos abandona". Foram 53mm de uma mistura de sentimentos - confesso que sai dalí com uma angústia na alma e plena indignação, por saber que é muito difícil combater a realidade mostrada no documentário, o pior de tudo é ter percebido que muita coisa não mudou desde a década de 90, em São Luís. Fora as roupas (que por sinal, havia a predominância da cintura alta, que voltou à moda no guarda-roupa feminino - fato foi muito bem pontuado por Letycia Oliveira, na ocasião), parece que o cenário na Ilha, até os casarões, que deveriam estar conservados, continuam cada vez mais precários. Quem sabe não se trate de um retrato do descasso ludovicense.
Após o filme houve um Bate-Papo com pintor Philippe Lhuillier e o mediador Francisco Colombo. |
"A Infância Perdida" é dividida em 3 partes, que mostram moradores de rua, favelados e jovens, contando sobre o que acontece nas ruas: dependência química, guangues, fome, miséria... os problemas com a polícia: abuso sexual, espancamento, perseguição, repressão, assassinato, abuso de poder. Além disso, há o movimento do HipHop, que inclusive contruiu para o fim das guangues em São Luís (impressioante a manifestação do HipHop, na praça Deodoro, uma grande mobilização da periferia).
Cabe ressaltar, que o HipHop é a "arte vinda da periferia". "A gente só fala a verdade, somos como um jornalista do povo", enaltece um personagem. Ninguem tem dúvida que as letras desse gênero musical, reflete muito bem a realidade e sentimentos da comunicadade periférica. Francisco Colombo, também levantou uma questão interessante, o tratamento das mulheres, como objetos dos gangters norte-americanos, no entanto, não houve um aprofundamento da discussão.
Como era de se esperar, falou-se do grafite (pichação) no filme; recortagens de jornais, mostrava motivo de orgulho de um morador. "Nossa vida é de artista, (...), por que para gente isso é arte, arriscar nossa própria vida, só em nome do prazer", ressalva um outro personagem.
Infelizmente, o Brasil não valoriza essa arte de rua, só pelo fato de ser oriunda da periferia. Em uma análise, poderia dizer que o grafite é uma tatuagem das cidades de concreto, a marca de alguém que merece ser ouvido e, principalmente, enxergado.
Elucida-se, também, que muita gente quer sair desse mundo, alguns vivem sem os narcóticos, outros que largam o vício e vão para abrigos, acabam sendo seduzidos pelo "chamado da rua e das drogas". Para não ficar na sargeta, os personagens ocupam os casarões coloniais abandonados pelo Estado, dormindo em caixas de papelão, mas mesmo assim ainda sofrem repressões pela polícia. Segundo Pouquinha, "eles (policiais) querem fazer assédio sexual com a gente, (...) até com os meninos homens,(...) dá choque na gente, eles 'faz' tudo, até matar". Será que a polícia não conhece os Direitos Humanos?
Telmirene conta que a sociedade e a polícia os exclui mesmo estando sem drogas. Ela foi morta por policiais, no jornal sai uma matéria que camufla o fato, ninguem soube, a não ser os moradores de rua, sobre a verdade do acontecido.
Por fim, fecho esta postagem com o apelo da Pouquinha, que em suas palavras reconhece o machismo encravado na sociedade: "eu queria uma vida melhor, pra homem tem, pra 'nois' não, pra gente que é mulher". Recordando o que Francisco Colombo falou, isso tudo é "o ciclo da tragédia" que não nos acabandona.
Confira o vídeo do único documentário de Philippe Lhuiller, em seu portal no YouTube.
Confira o vídeo do único documentário de Philippe Lhuiller, em seu portal no YouTube.